Em sua primeira edição, a Rede MulherAções foi contemplada pelo Programa de Aceleração de Lideranças Femininas Negras: Marielle Franco pelo Fundo Baobá. O objetivo foi o contribuir com o empoderamento de mais mulheres negras, indígenas e afroindígenas nos espaços de poder e tomada de decisão, com foco em ingressos nos cursos de mestrado e doutorado, na busca de uma maior representatividade no ambiente acadêmico. Portanto, vamos celebrar e conhecer um pouco mais sobre Rani Shanenawa, cujo nome na língua portuguesa é Edileuda Gomes de Araújo Shanenawa, integrante da Rede MulherAções, foi aprovada no curso de Mestrado em Artes Cênicas da Universidade Federal do Acre, o que nos enche de alegria e esperanças na potencialização das ações a nível coletivo.
"Meu nome é Edileuda Gomes de Araújo Shanenawa, nasci no dia primeiro de março de 1983 na Aldeia Morada Nova na T. I. Katukina/Kaxinawa. Sou por ordem cronológica de nascimento a terceira filha de Eudes Carlos de Araújo com Mariléia Brandão Gomes, meus estudos escolares básicos, minha alfabetização e minha escola primária foram feitos e concluídos na Escola Morada Nova. Minha formação continuou no município de Feijó na Escola Imaculada Conceição onde conclui meu ensino primário – da quinta a oitava série. Neste tempo foi muito difícil, pois, eu tinha que trabalhar com serviços domésticos na casa de terceiros para poder sustentar meus estudos, por vezes pensei em desistir, mas uma força maior me ajudou a continuar e a vencer as dificuldades daquela época. Meu ensino secundário foi realizado na Escola José Gurgel Rabelo, também situada na cidade de Feijó, foi nessa época que eu conheci meu atual esposo e nós nos casamos, era ele quem me levava todos os dias de barco da aldeia a cidade e me trazia de volta todas as noites, foi muito difícil, mas eu prossegui. Mesmo na minha segunda gestação eu ainda pensei em desistir, no entanto, meu esposo Antônio Valdineri Moreno Parente insistiu para que eu continuasse minha formação escolar até a sua conclusão. Se já havíamos chegado tão longe não poderíamos desistir.
Em 2007 com 24 anos eu concluí meu ensino médio e passei a trabalhar em um programa da Alfa Cem um projeto de alfabetização na língua portuguesa, esse era um projeto para atender jovens e adultos do município de Feijó. Com uma nomeação indicada pela comunidade shanenawa eu passei a ser responsável pela alfabetização básica na língua portuguesa dentro da minha aldeia. O objetivo era ensinar a todos que podiam a ler e escrever, ao menos o próprio nome, para assim ampliarmos a consciência dos nossos direitos como cidadãos também. E então, no ano seginte, no final de 2007, eu, após uma reunião dentro da comunidade, fui indicada temporariamente para trabalhar na Escola Morada Nova com um contrato provisório. Nessa época a escola foi rebatizada como Escola TEKAHAYNI SHANENAWA e passamos, eu e os demais professores, a trabalhar com as duas línguas, o português brasileiro e o Pano shanenawa. No começo de 2008, após ter sido avaliada pelo meu trabalho de um ano na escola, fui efetivada com um novo contrato e passei a fazer parte do quadro permanente de professores da escola dos Shanenawa. Então em meados de 2008 eu participei do processo seletivo para o ingresso no curso de formação docente para os povos indígenas do Acre. Foi quando a comunidade shanenawa decidiu que eu e mais dois professores participassem desse curso na Universidade Federal do Acre.
Atualmente diretora da Tekahayni Shanenawa e com a minha formação universitária interétnica eu já trabalho com os conhecimentos tradicionais e com a nossa própria língua e história dentro das atividades escolares. Hoje a escola conta com um projeto político pedagógico próprio no qual foram inseridos vários conteúdos particulares como as histórias dos antigos, as brincadeiras do Nuke Xicari, os nossos desenhos tradicionais (kenes), as músicas shanenawa, as comidas tradicionais, a confecção de artesanato, o manejo florestal, os conhecimentos da medicina e da agricultura tradicionais."
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