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DIA DA MULHER NEGRA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA

Jéssica Luana de Castro e Sulamita Rosa


Nesse dia 25 de julho refletimos sobre os encontros de existências e resistências das mulheres negras. Tecemos nossa essência perante a necessidade de resistirmos aos enfrentamentos tão duros que se apresentam em diferentes tempos e espaços. Resistimos, nas palavras de Audre Lorde, “na boca desse dragão que chamamos de América”, sabendo que a sobrevivência da mulher negra não faz parte dos planos hegemônicos brancos. Plenas de nossa humanidade, não desejamos apenas sobreviver, desejamos um bem viver pleno e digno e assim “essa visibilidade que nos torna mais vulneráveis é também a fonte de nossa maior força”. Assim foi com Tereza de Benguela, as mulheres afro-latinas-americanas e caribenhas e a mulher negra no Brasil.


A DATA: Em 1992 em Santo Domingo, República Dominicana, realizou-se o primeiro encontro de Mulheres afro-latinas-americanas e afro-caribenhas. O encontro se tornou um importante marco de discussão a respeito do racismo e desigualdades socioeconômicas. O dia 25 de julho foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas como o dia da mulher negra latino-americana e caribenha. No Brasil, a lei 12.987/2014, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, celebra o dia nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.


TEREZA DE BENGUELA: Tereza foi liderança do Quilombo Quariterê, local este composto por comunidades negras e indígenas, administrando-o com maestria, utilizando conhecimentos estratégicos, políticos, econômicos e da natureza, nas relações com o cultivo dos alimentos, viveu no século XVIII no vale do Guaporé (Mato Grosso). Após a morte de seu companheiro, José Piolho, Tereza assume a liderança do Quilombo de Quariterê que abrigava mais de cem pessoas entre negras, negros e indígenas. Destacada pela criação de um sistema de defesa do quilombo e de plantio de alimentos para a sustentabilidade do local. A resistência de Tereza no Quilombo perdurou de 1730 até o final do século, interrompido pela sua triste prisão por soldados e sua morte (que tem causas incertas). Seu nome persiste historicamente como a heroína negra brasileira que foi e herdeira de Rainha Nzinga Mband, organizadora dos primeiros quilombos em África no reino de Angola.


POR QUE DEVEMOS LEMBRAR DESSA DATA?


Pensemos que o racismo construiu, ao longo do tempo, estruturas sociais que subordinam a mulher negra em diferentes âmbitos. Portanto, muitos fatores de desigualdades socioeconômicas estão ligados ao marcador racial: é a mulher negra que se encontra interseccionada por dilemas sociais de desigualdade de sua cor, de seu gênero e de classe. Essa realidade é problemática na vida da mulher negra em diferentes lugares sociais.


Emanuelle Goes é mulher negra, pós-doutoranda, doutora em saúde pública e pesquisadora em desigualdades raciais, racismo, saúde e direitos reprodutivos. A pesquisadora aponta em seus estudos o fato de que o racismo institucional é a principal causa de morte materna para mulheres negras, daí a importância de contextualizar as desigualdades raciais historicamente para observar que as práticas racistas na saúde condenam as mulheres negras a ciclos constantes de violência. Um exemplo deste fato são os relatos de mulheres negras que não foram devidamente anestesiadas sob a alegação de suportarem mais dor; as estatísticas apontam que mulheres negras recebem menos tempo de atendimento médico em relação às mulheres brancas. Além disso, a taxa de mortalidade materna é de 60% para mulheres negras.


Quando pensamos no triste cenário de violência contra as mulheres negras a situação é ainda mais alarmante. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), dos 25 países com os maiores índices de feminicídio do mundo, 15 ficam na América Latina e no Caribe. Em contraste a esse dado, ainda temos baixa participação na política: mulheres negras representam apenas 2% do Congresso Nacional e são menos de 1% na Câmara dos Deputados


Precisamos lembrar mais do dia 25 de julho para quebrar com as histórias contadas, a partir do ponto de vista dos grupos hegemônicos, enfatizando a história geral com personagens brancos como protagonistas, relegando ao esquecimento, homens e mulheres negros que muito contribuíram na construção da nossa cultura e resistência do povo negro e pela necessidade de compreendermos as estruturas racistas que ainda impedem o bem viver para mulheres negras.


Que neste mês de Julho, possamos continuar na denúncia do racismo e do apagamento de nossas histórias e vozes dos currículos, na busca de que as legislações possam ser cumpridas. A todas as Terezas, Dandaras, Marias, e Tias Ciatas. Continuemos na luta.




REFERÊNCIAS E PARA SABER MAIS:


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